14/06/2014

Falando de arte:




Internacionalmente reconhecido, o nome de Marc Quinn está frequentemente associado ao grupo Young British Artists, surgido no início dos anos 1990 e que inclui artistas como Damien Hirst e Tracey Emin. Apesar de não ter se formado na Goldsmith como os demais, seu lugar no grupo está garantido por ter sido o primeiro a ser representado por Jay Jopling, dealer cuja galeria abrigou pela primeira vez a maioria das criações dos artistas deste movimento.

Um dos principais destaques de sua geração, o artista britânico explora a relação entre arte e ciência, o corpo humano, a percepção da beleza e as dualidades através de suas esculturas, pinturas e desenhos.

Quinn nasceu em Londres, em 1964, e formou-se em História da Arte pela Robinson College, em Cambridge – e as referências claras e concretas às obras clássicas da história da arte podem ser vistas em muitas de suas peças. Começou a expor seus trabalhos no início dos anos 1990 e, já em 1991, ganhou destaque com “Self”, escultura da sua cabeça feita a partir de cerca de 5 litros do seu sangue congelado, extraídos do seu corpo ao longo de cinco meses. O trabalho, que deve manter-se cuidadosamente em refrigeração, lembra ao espectador sobre a fragilidade da existência. Marc Quinn fez uma nova versão de “Self” a cada cinco anos, e em cada uma delas documenta sua própria deterioração e transformação física. No mesmo ano em que foi apresentada, a obra foi comprada por Charles Saatchi por £13 mil, sendo vendida em abril de 2005 por £1,5 milhão a um colecionador dos Estados Unidos.

Durante toda a década de 1990, dedicou-se a uma longa série de esculturas que exploravam o corpo humano, especialmente as mãos e os rostos, utilizando-se de uma ampla diversidade de materiais. Esta, aliás, é uma de suas características: durante sua trajetória, Quinn vem explorando as mais diferentes matérias-primas, desde o mármore e a prata maciça até borracha, cera, pão e até mesmo sangue. A materialidade destes objetos, tanto em sua composição quanto na aparência, é o centro de seu trabalho.



As obras de Quinn muitas vezes falam da relação distanciada que temos com os nossos corpos, destacando o conflito entre o que é “natural” e o controle do “cultural” exercido na psique humana. Em 1999, o artista deu início a uma série de esculturas em mármore de amputados, como uma releitura das aspirações gregas e romanas e suas representações idealizadas. Um dos marcos é a obra “Alison Lapper Pregnant” (2005), estátua em mármore de 15 toneladas que retrata Alison Lapper, uma mulher que nasceu sem os braços, enquanto estava grávida.

Outros temas importantes abordados pelo artista incluem os ciclos de crescimento e evolução, através de questões da atualidade como a genética e a manipulação de DNA, assim como as questões de identidade, da vida e da morte. Quinn volta seu olhar sobre a mutabilidade dos corpos e também sobre os dualismos que definem a vida: o físico e o espiritual, a superfície e a profundidade, o cerebral e o sexual. Também fala dos limites, sejam eles do corpo ou do cosmos, e explora a materialidade da condição humana e a sua transformação, apesar das restrições físicas e da “estranha inteligência” que parece governar o mundo.





Garden (2000) é um exemplo de abordagem a este tema de modificação genética e hibridismo. A instalação é composta por mais de 100 espécies de flores do mundo todo, mergulhadas em uma espécie de silicone líquido, de maneira que jamais irão fenecer. Quinn descreveu o trabalho como uma forma de encapsular o narcisismo cultural, impulsionada pelo nosso desejo mortal por algo perfeito. Mais uma vez, realça a relação entre a vida e a morte e a relação desta dicotomia com o mundo da arte. Fonte: Touchofclass